segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Acertando o time

Sempre gostei de humor e apesar de adorar as piadas prontas, aquelas que a gente decora para contar nas festas chatas e passar o tempo, o que realmente me atrai é o humor improvisado, aquele de momento, em resposta a um comentário ou gesto.
Para fazer esse tipo de humor o cara tem que ter o pensamento afiado, rápido e uma atenção aguçada para perceber onde a piada se encaixa. Entre os humoristas isso é chamado de time (tempo em inglês), ou seja, essa crônica não se trata de esportes!
O grande problema do time é que ele varia de uma pessoa para a outra, algumas pessoas sacam o gracejo na hora, enquanto outras precisam digerir as palavras com calma. (Será que foi isso que o senador Collor quis dizer ao Simão?)
Quando se trata de fazer um comentário humorístico para uma ou duas pessoas é mais fácil, uma hora ou outra eles entenderão (ou não), o problema é quando o comentário é para um grupo de pessoas (um time, talvez!). Enquanto alguns riem, outros ainda estão tentando entender, aí complica. Não existe nada mais sem graça que explicar a piada!
Certa vez, o Diretório Acadêmico de psicologia da PUC realizou uma promoção para uma calourada. Você comprava o ingresso e ganhava um cupom que dava 50% de desconto em um motel de Belo Horizonte. Eu e alguns amigos compramos nossos ingressos, mas como sempre tem aqueles que deixam para última hora, entre eles o Bruno que acabou ficando sem ingresso.
Porém, o Renan, malandro como ele só, conseguiu uma pulseira da organização que lhe dava direito a entrar na calourada, além de alguns privilégios, e resolveu vender seu ingresso para o Bruno.
Na porta da calourada estávamos o Bruno e o Felipe com suas respectivas namoradas, o Renan, e eu. O Bruno passou o dinheiro para o Renan e esse por sua vez o passou o ingresso. Então o Bruno indaga.
_ E cadê o cupom de desconto do motel?
E o Renan respondeu:
_ Eu dei pro Luiz.
_ E quem pagou a outra metade? – Lancei a pergunta um instante depois para não perder a piada.
Só o Felipe riu, seguido pelo Renan dois segundos depois, o resto ficou lá com aquela cara de “o que é que está acontecendo?”
Até explicar a piada, 1- o cupom dava 50% de desconto no motel, 2- o Renan “deu” pro Luiz, 3- então alguém teve que pagar a outra metade, (se alguém ainda não entendeu, desculpa, mas vão ficar sem essa) a graça já tinha acabado.
Foi quando eu li uma crônica de Mario Prata, grande cronista mineiro, e não entendi seu trocadilho imediatamente, que descobri a mágica das crônicas. Li mais uma vez o trecho que não havia entendido e comecei a rir, no meu tempo, sem precisar de outras explicações e sem ninguém para ficar me chamando de lerdo, ou coisas do tipo.
Eu percebi que uma crônica é muito mais justa, ela respeita sua privacidade e permite que qualquer um entenda a piada em seu próprio time. Além disso, se você não entendeu, pode ler de novo, e de novo, e quantas vezes precisar e ela não vai ficar te gozando. Existem ainda piadas que não fazem sentido quando são faladas, como esta frase engraçada que li um dia desses: Existem 10 tipos de pessoas, as que entendem os números binários, e as que não entendem. (Se não entendeu vá estudar matemática!)
Confesso que meu time é um pouco acelerado, lanço um comentário engraçado rapidamente e, muitas vezes, tenho que ficar esperando os outros entenderem, o que o torna menos engraçado. Nos últimos anos tive vontade de fazer comédia, stand-up comedy para ser mais exato, mas ficava com medo de me apresentar para muita gente (dez pessoas para mim já é muita gente) e não acertar o danado do time.
Então descobri nas crônicas o meio termo, onde posso escrever no meu time e cada um pode entender no seu. Isto está mais para sit-up comedy na frente do computador, mas já está de bom tamanho.

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