quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Saudades da ambiguidade!

Nosso idioma possui, aproximadamente, 230 mil palavras, apesar da maioria das pessoas usarem em torno de cinco mil. Com tanta palavra é sempre bom dar uma atenção especial para escrita, pois certas combinações de palavras podem passar uma mensagem diferente da que queremos transmitir realmente. Quando uma frase tem mais de um sentido ela é chamada de ambígua.
A ambiguidade (que não tem mais trema, mas isso é assunto para outra crônica), além de outros problemas como a cacofonia ou o pleonasmo, normalmente gera falhas na comunicação, porém muitos poetas e amantes do nosso idioma usam esses erros para gerar frases engraçadas, provocativas, enfim, poesia pura.
Lembro de uma falha de interpretação de minha irmã há alguns anos, quando ela tinha por volta dos cinco anos de idade. Minha tia, uma amiga minha e eu falávamos sobre bicicletas e minha irmã que mexia com alguma coisa nas proximidades começou a prestar atenção na conversa, então minha amiga disse:
_ As bicicletas, hoje em dia, estão caras. Uma bicicleta COMUM custa uns cem reais! (E cem reais na época era um bom dinheiro)
Minha tia e eu, simplesmente concordamos com um aceno de cabeça, enquanto minha irmã que bicava a conversa perguntou logo:
_ E uma bicicleta SEM MUM, custa quanto?
Esse erro ocorreu pelo fato de minha irmã ainda não entender nossa língua muito bem, mas foi o suficiente para gerar boas risadas. Ela devia imaginar, que diacho de mum é esse que faz a bicicleta ficar tão cara? A minha pode ser sem mum mesmo!
Sempre gostei a possibilidade de transformar esses erros em coisas engraçadas e brincando com isso lancei algumas pérolas. Como em uma vez na faculdade em que um professor disse que o homem sempre se rende aos desejos de sua namorada quando está amando. Não pude deixar de lançar uma piada para zoar o meu caro colega Dudu:
_ Então o Eduardo está amando. A mando da Raquel, sua namorada.
Ou quando peguei com um amigo meu a nova temporada de Heroes para assistir em um dia chuvoso e minha irmã fez a observação:
_ Você já reparou que sempre que vai à casa do Dé buscar uma nova temporada está chovendo?
_ É porque nós estamos na temporada de chuva! – respondo eu todo Zé graça.
Mas o ápice das ambiguidades ocorreu quando eu estava no ensino médio. Foi a época das músicas ambíguas, era sertanejo, pagode, axé, tudo tinha duplo sentido. Todo mundo se divertia ouvindo uma coisa e imaginando outra, na maioria das vezes pornográfica, mas ninguém tinha vergonha de cantar alegando que a maldade estava na cabeça de quem interpretava mal.
Alguém se lembra da sertaneja “A garagem da vizinha”? Ou daquela que dizia que “ela segurava o coco e alisava o canudinho”? Eram os clássicos da época, todo mundo sabia cantar.
Até eu cheguei a fazer uma música ambígua para um concurso que teve na escola, mas a professora censurou a música por causa do duplo sentido, porém sob muito protesto, afinal a letra não tinha maldade alguma, “a maldade estava na cabeça de quem interpretava mal”. (Eu admito que também usei essa desculpa.)
Tenho saudades dessa época! Apesar de não serem nada cultas, as músicas eram divertidas. Mas aí vieram novos tempos e o duplo sentido sumiu, só sobrou um sentido. O pornográfico mesmo. Surgiram letras que a censura (ou a minha vergonha) não permite que eu escreva aqui, acabaram com a ambiguidade, com o pudor e também com a graça.Hoje em dia eu não consigo ouvir, e muito menos cantar, a música popular brasileira, e não estou em referindo à MPB que não é tão popular assim, estou me referindo às músicas que a maioria dos brasileiros tem escutado. Posso estar sendo meio antiquado, quadrado, ou saudosista, mas para mim o sonho acabou. Que saudades da ambiguidade!

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